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Comunicação entre o casal missionário em momentos de mudanças


Introdução

A vida missionária é uma aventura de fé e, como tal, implica viver tanto momentos de alegria como momentos de tristeza, momentos de estabilidade e momentos de instabilidade, momentos de ganhos e também de perdas. O certo é que sempre há mudanças na vida ministerial e isto significa que se fecham capítulos e se abrem novos, com suas respectivas alegrias, lutos e dores. O casal missionário é chamado a celebrar junto os tempos de vitória e também os de prova. Entretanto, nem sempre acontece assim. Algumas vezes, quem sofre uma mudança inesperada em seu papel no ministério ou quem é criticado por seu mal desempenho no processo de plantar uma igreja ou quem se desilude por uma atitude inesperada de quem estava sendo discipulado, não reconhece que está enfrentando uma série de perdas, não compartilha seus sentimentos de dor com seu cônjuge, provocando um dano na relação conjugal.

A prática clínica nos mostra que uma perda psicológica é muitas vezes minimizada e até não reconhecida como tal. Por outro lado, uma perda material ou a morte de um ente querido é admitida e é acompanhada com um processo de luto. A recomendação é considerar as mudanças inesperadas como uma perda psicológica que requer ser resolvida com seu respectivo luto porque não o fazer provoca sequelas negativas na pessoa e na relação do casal.

Mudanças, Perdas, Recuperação

Segundo Freud, quando uma pessoa não se dá a oportunidade de viver sua pena e o luto correspondente a uma perda isso provoca um estado de melancolia ou a conhecida condição de uma dor não resolvida. Na vida missionária o casal pode experimentar uma série de situações ou mudanças que causam dor. Entre as mais comuns se encontram: a igreja deixa de apoiar financeiramente, o diretor de campo decide fechar um ministério onde o missionário está envolvido, a discrepância de opinião entre o missionário e o líder da igreja nacional que foi plantada recentemente e que termina em uma divisão, um desacordo com um colega na equipe e que resulta em uma relação despedaçada ou até finalizada.

Os casos mencionados provocam dor psicológica e não compartilhá-la com seu cônjuge para não preocupá-la ou preocupá-lo pode trazer mais dano que ajuda. É o contexto de casal e de ser “uma só carne” que permite compartilhar uma dor com seu cônjuge para que ambos vivam juntos a dor da perda e se reorientem para um processo de cura e para uma nova etapa em sua vida missionária. O cônjuge é o presente de Deus, com quem se deve compartilhar para receber uma resposta empática e juntos assimilarem a perda. Do contrário, a pessoa mais diretamente afetada, ao não reconhecer sua perda, a reprime ou em outros casos, ainda pior, projeta seu ódio e depressão no cônjuge.

Caso

Por exemplo, a missão decide fechar o ministério de serviço a refugiados por falta de fundos e por problemas na administração. Esta decisão é comunicada ao missionário encarregado, o que provoca nele uma forte raiva e pena, mas não deixa sua esposa notar nenhum sentimento de dor nem de frustração. Ela, por sua vez, decide não expressar sua compaixão a ele para não o fazer sentir-se mal ou para não provocar nele um estado depressivo. Desta maneira ambos, sendo casal, vivem este processo de forma individual, reagindo internamente com:

1- Sentimentos internos de desilusão, raiva e pena.

2- Apego à esperança que a mudança e a situação melhorarão de uma maneira ou de outra.

3- Apatia emocional em relação a seu cônjuge ou até um distanciamento um do outro.

4- Atribuição de culpa a seu cônjuge pelo mal momento no qual se encontram.

5- Esperança de que, pouco a pouco, se encontrará um sentido para o que estão vivendo.

Todas estas etapas, que vão do desespero até a esperança, podem ser vividas de forma menos intensa e destrutiva na relação do casal se desde o início a pena é compartilhada e vivida em união e numa atitude empática de um para com o outro. Viver como casal, sob a concepção de Deus, implica que tanto os momentos de dificuldade como os momentos de solução sejam vividos em conjunto e não no isolamento porque, no final, provocam maior estresse na relação conjugal. Os conceitos tradicionais, que indicam que o homem deve ser o mais forte e não preocupar a esposa com problemas de trabalho ou que a mulher não deve levar mais cargas ou problemas ao esposo, correspondem a esquemas machistas que já são arcaicos nesta etapa pós-moderna.

Recomendação

1- Aceitar que na vida em geral, e na vida missionária sempre, ocorrem mudanças e estas provocam dores, mas também, paralelamente, uma oportunidade de crescimento. 2- Deus não nos dará uma prova maior do que possamos enfrentar. A pergunta a ser feita não é porque e sim para que Ele está permitindo que este momento seja vivido. 3- Cada pessoa do casal precisa ser responsável e reconhecer como está reagindo a mudanças e evitar culpar seu cônjuge. 4- Resgatar e usar a relação conjugal como um espaço onde se compartilham os sentimentos de perda sentidos e se elabore a dor correspondente, afirmando de forma comum a esperança que sempre existe em cada situação de mudança e dor. 5- Cada um no casal deve aceitar e receber a dor do outro ou outra, de tal maneira que a situação seja assumida por ambos, evitando crítica, zombaria ou culpa.

A relação de casal é vivida em estilo de interdependência. Neste sentido, reconheça que as mudanças em um provocam um efeito sobre o outro. O sofrimento, portanto, que um dos dois experimente por uma mudança inesperada deve ser compartilhada para conseguir sanidade e melhorar a capacidade resiliente como casal.

O Dr. Carlos Pinto é Psicólogo clínico e de família, e Coordenador na Região Andina do Cuidado Integral do Missionário, COMIBAM INTL.


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